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Campo Pequeno 2014: Cheinha, galerias e tudo!

por Fátima Pinheiro, em 16.05.14

 

                                                      Uma das belas pegas da noite

                                                      N. Pascoal 

 

A temporada de 2014 começou ontem na Praça de Touros do Campo Pequeno. 6 touros da ganadaria  Santa Maria para Rui Salvador, Pablo Hermoso , João Moura Jr e para os forcados Amadores de Évora e do Aposento da Moita.  A certa altura disse uma pessoa que estava atrás de mim: “Olha a Praça, cheinha, galerias e tudo!” A corrida? De 0 a 20 quanto?

 

Uma Corrida tem o essencial e o acessório. Eu gosto de tudo, até dos comentários que vou escutando. Ontem tive sorte (tirando o homem  “espaçoso” que estava mesmo à minha frente, que me ia marrando nos joelhos e fumou aí um maço; da próxima levo leque): todos percebiam do “tema.” “O touro está a andar, não está servir de paliteiro”. Ou o típico: “ puxa o cavalo para o meio da praça, vá, vá, vá!!!”. Com o espanhol foi mesmo isto: “ Ele sabe… mete o touro onde bem quer”; “olha a cara do cavalo a enfrentar a cara do touro”. Fê-lo com dois cavalos, sobretudo com o Viriato. Foi evidente que é na harmonia vivida entre o cavalo e o cavaleiro que o segredo habita e a tourada acontece. Não que se anulem. Antes pelo contrário: ao serem um só, cúmplices e íntimos,  destacam-se com todo o brilho que cada um tem. E esse olhar “bicéfalo” é uma atenção com o touro, que o posiciona mais belo, e a eles também. E a lide ganha a beleza maior de festa brava de vida.

 

As pegas (tirando umas duas em que houve contas mal feitas, mas talvez afeição maior…) impressionam sempre. Pela generosidade de quem chama o touro pelo “nome”, e se prepara - passo a passo – à paciência para o abraço amigo. Ontem foram 6 silêncios absolutos, e nascidos do nada,  a anteceder esse encontro com o imprevisto. Como na vida.

 

E ao começar a segunda parte da Corrida, já aprendi que não espero mais do mesmo. Outra vez os mesmos? Não. Acontece a mesma pedagogia que nos mostra que nada se repete e que tudo é uma novidade, passo a passo, a pé e a cavalo. Como na vida: as segundas partes parecem oferecer mais do mesmo, mas não: tudo é novidade (e falo do lavar dos dentes, ao do expresso da manhã, por exemplo); só é mecânico se eu quiser. A já chamada “laranja mecânica”. Também já vi e vejo tourear assim…A começar em casa...

 

Não quero a Metafísica da Tourada. Quero a Festa, a Arte, e que ela me devolva a mim mesma. Para que a Música, ao sinal do lenço branço, começe a soar, naquele gosto que só faz vibrar quem foi ensinado a “tourear”, sentada no banco que me coube e cabe. Ontem, mais uma vez, ganhei-me em “momentos” de cavalo, de touro, de pega, de dança e salero.

 

Pablo Hermoso de Mendoza veio de Navarra e é tido como dos melhores. Não é por ser estrangeiro que é melhor, até porque os nossos são bons. E houve forcados de se lhes tirar o “barrete”. Nem é por Hermoso  ter recebido em 2010 o Prémio Francisco Xavier ( o nome de um dos meus três touros), que pôs o Campo Pequeno em grande e em pé. Muito, muito. De 0 a 20, quanto? “Sim”, diria um professor que tive e que nos fazia crescer com as respostas. À pergunta que exige um número, ele responde: “sim”. 

 

E eu? Cheinha, em todas as minhas galerias! Sem alternativa. Belo de se ver, entre “tanto", o  pai João Moura, sempre de olho – mais no touro do que no junior – com uma atenção ou tensão que só vista. Tradição, cultura, amor à vida. Não adianta a gritaria, lá fora, a embandeirar “basta”. O que é vida, é sempre.

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