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"expresso" cada manhã
Mário Soares
Fotografia de Rui Ochoa
Amor e tradição são uma lição: o Povo é quem mais ordena? Ai pois é! Mas qual Povo? Dois Amores fizeram duas Cidades: a de Deus e a dos Homens, e essas cidades encontram-se “misturadas” aqui e agora – defende S. Agostinho nos 19 livros da sua obra Civitate Dei. É esta “mistura” que hoje me interessa. Uma espécie de trigo e joio existencial que urge aparar. Cuidar. Sem esta atenção pragmática, a Política já era. Não se vive de ceifas mas sim de vidas e de cirurgias, quando necessárias. Se é para ceifar, então prefiro o regresso às Cavernas, ou o caldo quente original; ou então mesmo um Woodstock que dure até eu me chatear e me encontrar.
Jornal Público de ontem: duas colunas de opinião, uma ao lado da outra, uma à esquerda e uma à direita. Mário diz que foi no domingo passado que passou, que se lhe deu a evidência de que existe hoje uma “preocupante indiferença” a António José Seguro. Será que acordou agora? Ou que é da idade, já que os ares de Nafarros, Saraiva, dois Antónios e seus cabritos, não salvam o que não pode ser salvo? Nem pensar! Soares sempre foi, e é, “fresco que nem um carapau”. Uma espécie de time out. E, claro – aqui vergo-me incondicional -, 25 de Abril sempre. Sem sombra de dúvida. Mas nestas matérias nada é mecânico, nem há cá coutadas ou direitos adquiridos. As coutadas são outras, e os direitos são de quem mesmo mais ordena.
E já aqui disse ontem que nada disto tem que ver com a pessoa, mas com os seus actos. Estou sempre a dizer isto, porque muitas vezes o que digo é mal interpretado: eu gosto dele; mas não gosto de certas coisas que ele faz. Ponto. É também desta forma que me vejo a mim e aos outros. E não digo isto para fugir com o rabo à seringa ou para diminuir ou amaciar o que quero dizer hoje. Tenho medo? Nem preciso de cão. Chego-me. Chego a ter saudades daquelas bochechinhas que nunca tive o privilégio de apertar. Contigo aprende-se a ter saudade…
Voltando ao Público. Dizes: há socialistas que têm “a ambição de dar a Portugal uma alternativa” como deve ser. Aqui digo eu: temos visto que sim!!!! E acrescentas que se impõe mais do nunca (!) “uma política corajosa (…).” E que ainda bem que António Costa tenha dado à costa; que o felicitas e apoias por ter aparecido (seria now or never, pergunto). Vais ao ponto de afirmar que ele é a esperança para o Povo, que “tem sofrido tanto com este Governo”. Caso para eu te perguntar: mas o senhor Dr. Mário Soares faz mesmo parte do Povo? Concluo olhando a coluna da direita, olhando-a de frente: que opinião pouco valente!
A da esquerda, de Valente, sim. Vasco Pulido diz que com ou sem Costa a malta é a mesma: “A [sua] súbita aparição não irá varrer com facilidade este antro [leia-se: PS] de estupidez, de ambição de intriga.” Que o PS se tem agora, e apenas, centrado na preocupação pelas culpas da cisão cada vez menos intermitente e visível aos olhos de todos. E diz, e certo, que a vantagem de Costa é a de há muito se ter divorciado de Sócrates (se é que alguma vez tenham sido casados; parece-me que tenha sido até agora uma “união” de facto). E também no facto de António Costa “perceber muito bem o mundo à volta dele.” Eu? Tenho dois amores. O resto é fiada.
K G Chesterton (fotografia tiradad da net)
Foi muito bom o Colóquio sobre G. K. Chesterton no A2 , na Universidade Católica, ontem. Não admira que Jorge Luís Borges o tenha escolhido como seu escritor de eleição, como um dia explicou: “era um homem que não se limitava a acreditar em Deus, mas que se interessava mesmo por Ele.” Não para estar nas nuvens, mas para gozar a vida. Um dia perguntaram-lhe que livro gostaria de ter nas mãos se ficasse isolado numa ilha deserta. Resposta: “manual para construção de canoas”. Recentemente veio a notícia de que poderia vir a ser declarado santo; como já aqui disse, chegou-me às mãos um artigo do Jewish Chronicle: "Pode o inimigo dos judeus G.K. Chesterton ser um santo?". Mas poderá um verdadeiro inimigo dos judeus (e que disse em tempos coisas menos edificantes) ter escrito um dia: "Darei a vida em defesa do último judeu na Europa"? Quando um dia lhe perguntaram se seria santo, ele, no seu paradoxal humor disse que seria bem interessante um homem gordo, de charuto, e mais não sei o quê, de auréola na cabeça!
Hoje expresso aqui coisas que lá, na Católica, marcaram esta mulher, que ontem era quinta-feira. E tenho que me despachar porque não resisto a correr ver o Público. Para ler quem já não faz política. O que inventou Soares esta vez?! Porque no fundo gosto de ti – não destas tuas manobras - espera amanhã pelo (2)…
“Small is beautifull”, eu já sabia. Mas ontem “aumentei”. Só um homem grande e rolante faz dos pequenos, grandes. Isto é comuns, dizia Chesterton, o meu “homem que é hoje”. Os mais de 5.000 artigos do jornalista alargam-nos porque neles All things [ are] considered. Criticam-no um dia: nunca escreves sobre Deus! “Não”, disse. “Em tudo o que escrevo estou a escrever sobre Deus”. É o tema. Aliás já Santo Agostinho dizia que só há dois temas sobre os quais interessa escrever: o “eu” e “Deus”. Não se espere portanto encontrar um tema-tema, mas qualquer escrito de Chesterton é, disse-o, a sua visão sobre o tema. E o seu amor ao paradoxo não é uma figura de estilo, mas é a sua visão das coisas. Por grande ou comum exemplo, de S.Paulo: Vejo o bem que quero e não o faço; faço o mal que não quero, e ganha em mim. Mas não me ganha a mim, diria. Nem a Chesterton: aos 40 converteu-se ao catolicismo. Assentou na Pedra que salva.
E é sem rodeios que o testemunha: “converti-me ao catolicismo por causa da Confissão.” Não à caricatura que dela se faz: peca, peca, que depois vais ao padre. Não andamos aqui a brincar às escondidas. Não estou a brincar comigo. Nem ele com ele! Estamos sim a chamar as coisas pelo nome. Ah, sou limitada, todos fazem o mesmo, os tempos mudaram, é a vida. Ó pá não me apetece. Ó pá apetece-me. E a vida é curta (será?). OK. Mas quem tem medo da palavra “pecado”? Não me venham com histórias de inquisições ou pedofilias, que isso há em todo o lado. “Pecado”, o que é? É “não amar”, that´s all. O pior dos pecados é o desespero, desistir. De mim, de tudo. Conheço isto muito bem. É comum.
Chesterton tem textos sobre a alegria da Confissão que são desarmantes, notou Maria João Laje, uma das conferencistas. E a alegria é justamente o “segredo do cristianismo”, diz ele. Contagia sem violentar. Desarma sem agredir. À santo. Os bloguistas bem precisam de um, e que eu saiba, não há ainda. De qualquer forma, Chesterton já o tenho no meu escapulário, muito pequenino, que levo ao peito, e onde estão escritos os nomes dos meus amigos. Eu, uma mulher pecadora, normal, santa, comum e extraordinária. O segredo não está no escrupuloso querer saber se O amo; está sim na certeza que recebo, todos os dias, de uma forma mais ou menos estúpida, com mais ou menos dificuldades (títulos de livros dele, que a Zita Seabra tem editado na sua Aletheia), que Ele me ama. Lembra K. G. “ a fé começa mesmo antes de a termos”.
Só porque me esqueço destas coisas, às vezes “sinto-me” infeliz. Ainda bem que a felicidade não é um estado de alma! A felicidade acontece – cai-me de cima em cima – no meu desejo ou sede saciados no pedir dela de cada dia. Se eu fosse a fonte ou a gestora dessa Água, não seria eu. Deus me livre.
O João estava ontem sentado no A2 à minha esquerda. A certa altura, falava-se das coisas simples das nossas vidas, tirou da mochila um livro de Roger Scruton: I drink, Therefore I am. A Philosopher´s Guide to Wine. “Lê!”. E deu-me uma passagem em que alguém conta a sua visita a uma casa das Irmãs da Madre Teresa de Calcutá: “It was with a botle of Ksara rosé that a great change came over my thinking” (Continuum, 2009, p.72). A Isilda, que estava do meu lado direito disse: ”esse autor é muito bom”; “acabei de ler um livro dele…”. “Qual?” Ela disse uma coisa como as vantagens de ser pessimista. Vou ver. Só se pode ser otimista K.G.
Encosta-te a mim...
Então é assim? Foi preciso esperar para ver o resultado de Seguro nestas eleições europeias? Por que é que Costa aparece só agora? Estava à espera que um terço dos portugueses se manifestassem? Mas não sabia já ele que a abstenção seria enorme? Mas que legitimidade politica tão magrinha! Esta golpada não é justa para Seguro. Não é justa para o país, não é justa para quem nos tem governado. Terá a justiça do tamanho que ele quer: ser o próximo primeiro-ministro de Portugal. De cavalo de pau, cavaleiro andante-militante desde as suas 14 primaveras, como fez questão de lembrar ontem aos jornalistas. Como que a dizer ao português: podes vir chorar no meu peito as mágoas e as desventuras, sabes sempre onde estou, sou o que te conta mentiras, do meu cavalo de pau, vou estar sempre do teu lado. Se é assim prefiro o Rui Veloso, que logo à noite estará na Bela Vista. Será o meu país um Rock in Rio? Venham depois com a cantilena que Durão Barroso nos abandonou e de que no fim das contas é ele o culpado. Género western: “DB: procura-se!” Abandonou o tanas. Sabem a história toda?
O estado da democracia chegou a um ponto em que não vale a pena dizer – para já - que estas não foram eleições legislativas. As ideias de democracia e Europa estarão em crise. Os protagonistas políticos – salvo uma ou outra exceção que me recuso a sublinhar porque está na cara – mostraram mais uma vez como se tem feito a política: facadinhas nas costas, oportunismo, e apostas quando não há risco. Passos Coelho tem tido a coragem de tomar medidas de austeridade, impopulares. Coisas desagradáveis. Às vezes a chutos e pontapés? Terá dado algum passo que não foi o correto? Não fez nada que não desse certo? (os Xutos logo vão cantar ao lado do Rock do Rui). Não que eu lhe queira assim tanto. Mas não se percebe que quem ganhou no Domingo foi ele? Pelo que tem feito? Pelos riscos mesmos riscos, e não a fingir?
O silêncio das urnas no Domingo pode ser visto como uma moção de confiança – ou o benefício da dúvida - para que quem começou a obra, a leve ao fim. Para se fazer o que ainda não está feito. Embora estejamos com o país a abanar, a ver muita gente a passar mal, vale agora a pena deitar tudo a perder? Ricos, privilegiados parece que sempre os teremos. Queremos que Roma e Pavia se façam num dia? Cortem as pernas a Passos! Cortem as pernas a Seguro! Por que não chamam Sócrates para um “encore”? É para começar de novo e dizer, mais uma vez: “agora é que é”? Histórias da carochinha. Vem o novo Salvador? Vai-se rebobinar. Já vi este filme. Deixemo-nos de utopias. Eu prefiro uma presença, a errar por vezes, mas a pegar no barco que estava à deriva.
O Governo não fez o que a troika quis, ou não governou “a mando” dela, lembrou ontem Passos Coelho na abertura do Conselho Nacional. Fez sim o que entendeu necessário – tinha e tem toda a legitimidade para o fazer - para retirar o país da insolvência em que se encontrava. E nós esquecemos por que chegamos a esse abismo, ou “terramoto”. Ribeira vai cheia e o barco não anda? Sem referir o Tribunal Constitucional, o PM lembrou ainda que é preciso uma tomada de consciência, que há decisões que poderão vir a comprometer o futuro do país. Que poderão por em causa uma recuperação sustentada da nossa economia e a recuperação da credibilidade do país.
António Costa quer disputar a liderança do PS e desafia o líder do partido a dar a palavra aos militantes? O PS é que está em crise. O terramoto que sofre agora – com tanta fratura interna - não deve impedir que se continue a aposta legitimada nas últimas legislativas. Costa disse ontem que se Seguro não convocar o congresso, ele próprio irá avançar com um pedido na comissão nacional: "O PS é um partido responsável e democrático, onde a boa tradição é que haja liberdade de expressão, pluralidade e escolha democrática pelos militantes das suas lideranças"
Deu à Costa, pronto. Can´t get no satisfaction. Eu? Tenho o meu amor lá na outra banda. Nem tudo o que vem à rede é peixe. Não que seja maniqueísta mas isto está a melhorar. Seguro segura-te, ou queres o usa e bota fora. Os mandatos levam-se até ao fim se há razões. E há. Ou poderá cair este governo só porque o PS tem mais uma cadeira na “europa”? Acho que basta. Costa: queres ser Primeiro Ministro? Eu ofereço-te um jogo de computador. Ainda tens o Magalhães? Não brinco contigo. Simpatizo contigo. O tua cara agrada-me; sei, de fonte segura que és competente, que ainda nos teen já fazias leis. Um animal político. Mas será que vale tudo?
Papa Francisco, Rabib Abraham e Iman Omar Abboud, anteontem em Jerusalém
fotografia tirada da net
O voo à Terra Santa não foi visita política. Foi correr para agarrar o essencial. O que faz correr Francisco assim? O livro sagrado tem a “definição” de amor no capítulo 13 da Primeira carta aos Coríntios. Aí se diz que o Amor é uma construção, mas a partir de um Dom, de algo que “já está”. O mesmo se diga da Unidade. Aqui vem a questão: se é um Dom, por que razão o peço, por que há que pedi-lo? Sim, porque o sucessor de Pedro insiste em que peçamos – ou rezemos, que é o mesmo -, sempre e insistentemente. Mais uma vez o certeiro Chesterton a notar que a verdade está no Paradoxo. Mas S. Agostinho ainda diz “melhor”.
O que escrevo faz sentido para quem precisa de ser salvo. Eu preciso. Sei por experiência que preciso de mãos que me levantem todos os dias, de olhos onde vejo portas e janelas, de abraços que me curem as feridas. Pelas minhas mãos nada disto acontece e acontece (outra vez o paradoxo que ilumina): “o amor é paciente, é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento./ Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade./Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (da tal carta de S.Paulo). Aquele abraço da Terra Santa, acima na fotografia, diz tudo.
Repito as palavras de S.Agostinho à minha maneira: Deus criou-te sem ti mas não te salva sem que o queiras, sem a tua liberdade, o teu sim a ti mesmo, ao que és por dentro. Quando os irmãos “desavindos” se deixam apertar nos doces braços do Pai, choram de alegria. Convertem-se, isto é, o seu coração, a sua razão, alarga. Abraça o mundo. De boas intenções está o inferno cheio, oiço. E então. Há alguma coisa que vença mais que o fogo do Amor? Eles correm, correm.
O Abraço em que há dias se fundiram o Papa Francisco, o Rabib Abraham e o Iman Omar Abboud, em Jerusalém, mostra ao mundo inteiro que Deus não é uma Utopia mas uma Presença. Uma Presença: vê-se, toca-se. A isto se chama Encarnação. O verbo se fez carne e habita entre nós.
Fátima Campos Ferreira
Uns minutos antes do Programa (fotografia tirada do facebook)
Faz de conta que sou o Eduardo Lourenço e digo “vou a todas”. A verdade é que adoro debates. Neste caso, vou quando posso ao único debate de "informação" no canal 1. Ontem era sobre a Europa. E o “miada” em epígrafe não quer dizer que a conversa tivesse apenas a felina retórica a que já me habituei, sobretudo depois da rapidinha na Sorbonne. Marinho Pinto, a estrela de 25 passado, nem sequer miou! Quem vai a um debate, seja ele qual for, ou vai ou não vai. De corpo inteiro, não apenas de corpo presente. Deixar as coisas a meio? Não obrigada. Ontem, no “palco” foram três os que se deram “todos”. Querem saber quais? Leiam. Não querem, não querem. Eu continuo a correr para agarrar a Europa, porque uma lágrima sua…
Eram 4: ao lado de Marinho estava Ana Gomes, e, em frente, Pedro Reis e João Ferreira. Uma repetente, salvo erro 6ª na lista, um mandatário de uma coligação, e “apenas” dois cabeças de lista. Na plateia um politólogo, e dois constitucionalistas. Jornalistas? Estavam dois na sala (que eu visse…). Então? Então hoje era para dizer - e cito um dos quatro - que os argumentos foram “de parca razão”, para citar a poetisa deputada. Dos da plateia percebi pouco. Que é injustiça violar contratos?!Os meus parcos dois anos de Direito na Católica não terão chegado para perceber mais; mas isto agora não interessa. Fico no palco, aprendi no programa, e partilho. Ah, ia-me esquecendo; gostei que Jorge Pereira da Siva tivesse sublinhado que o mais importante é a qualidade dos deputados do que o partido a que pertencem. Como eu o percebo, a ele e ao sistema. E que há crispação, disse o politólogo André Freire, o que prejudica a argumentação. E para o Tiago Antunes não ficar de fora, deixo um dizer dele: “não se discutiram questões europeias; foi uma pobreza de campanha”.
Aqui vai. Um Pedro diplomático, comtido -ou sempre muito caladinho e comedido (ia a dizer comprometido) - a debitar não o que sabemos, como pleno de lugares comuns. E, claro, contente com o fogo direto entre a menina PS e o galã da CDU. Foi a tal ponto, que Marinho, no meio da miada, disse, ironizando, como é costume: “eu não vim aqui para assistir a um frente a frente entre estes dois.” A jornalista do Canal 1 teve que se levantar várias vezes, vestida, como de costume, e também, de ironia. No final do Programa reconheceu que o debate, desta vez, tinha sido difícil. Mas que era assim. O tema é complexo. (sem que seja necessário juntar-me a Hollande e dizer que isto é um terramoto).
Não digo que muita da responsabilidade é da Comissão Europeia: “O Presidente da Comissão não tem exercido os seus poderes”; “Durão Barroso foi um tristíssimo e fraquíssimo presidente da CE” - disse a menina que ontem estava muito incomodada, mais assanhada que o costume, e que gostou do elogio do colega do lado, de que gostava de tê-la a ela a seu lado; mais do que a Francisco Assis. O mesmo teria dito de Rangel, presumo. Rangel que foi convidado. Rajadas daquelas a Durão Barroso, e depois ficarem no ar. Ou dizer que houve debate sobre a Europa, mas que a culpa é dos media, não faz um debate, Dra. Ana Gomes. Argumente! Ou então Silêncio, que se vai cantar o fado…
Onde estão as questões europeias? Contaram-se espingardas! É poucachinho. E que o fenómeno Marinho Pinto se devia à notoriedade. Resposta deste: “ah pois; o Eusébio é que nunca se candidatou”. E Campos Ferreira, a um “piropo” do homem fenómeno: “eu ia logo para PR!”.
De Europa? Extrapolaram-se resultados. De resto, “no passou nada”, e passou "tudo" (o tal paradoxo de Chesterton...). Foram e são narrativas e interpretações. O Programa tinha em subtítulo: Europa e agora? Agora é preciso cidadanar, desabster-se, cumprir mandatos até ao fim. Porquê? Para que a vida não seja superficial. Não é verdade dizer que "nous sommes déjà - e todos - embarqués?" (Pascal, o filósofo).
Nenhum homem é uma ilha...Transponho para a minha corrida, o que disse o homem que parece ser agora – num lançar de deixa da jornalista – uma espécie de “voz geral da sociedade” - : eu candidatei-me para ser eleita; fui eleita; os mandatos são para ser cumpridos até ao fim; a vitória do PS não é cherne mas uma “perca” de razão. Eu? Sai de lá e estou hoje mais argumentada e em liberdade. Há remédios que começam a fazer efeito no day after. Uma crise pode ser um belo desaFIO. Está em crise a democracia e a ideia de Europa. lembrou alguém nalquele palco,ontem.
Marinho Pinto fotografia tirada da net
Começei a olhar para ele num debate televisivo sobre coadoção. O tema é fracturante. Muitas perguntas não foram respondidas. Houve uma que me ficou, e veio de um Marinho Pinto que eu desconhecia até então:"uma criança tem direito a um pai e a uma mãe?". E ele disse que sim.
Isabel Moreira antes dissera : "um espermatozóide não é um pai". Tem toda a razão, mas é também verdade que um espermatozoide pode vir a ser um pai.
Trata-se de proteger a criança. Estranho porém ter que repetir-se este dogma tanta vez! E como é habitual neste tipo de programas, na mesa estiveram números, leis de países considerados mais avançados, estudos de psicologia que mostram que a presença masculino/feminino é fundamental, outros estudos, o contrário.
Um dia farão espermatozoides em laboratório, dir-me-ão. Preciso de saber como é que se poderá vir a fazer, a partir de que material biológico. Também quando se discutiu a clonagem me explicaram que qualquer célula serviria, que poderia, por exemplo, ser retirada de uma perna. O que quer dizer que tenho, neste caso, como "pai", uma perna. Aqui ironizo, obvio.
Ser pai é muito mais que ser o pai biológico, o que vale para a mãe, e não só para a clonagem. Mas voltando ao Programa onde passei a seguir Marinho Pinto, registei: que a criança tem direito a um equilíbrio afetivo; que muitos casais não o dão, outros sim; que muitas instituições não o dão, outras dão. Que o que preferem os filhos de uns, não preferem os de outros: uns acham que é uma estupidez a criança viver com dois pais e com duas mães; outros filhos acham que pode ser, que é melhor uma criança, que "perdeu" os pais, viver com alguém que lhe dê amor, do que viver numa instituição sem rosto humano. Também acho. Conheço alguns “casos”.
Fartos de saber a sociedade em que vivemos: casais, instituições, política, que deixam muito a desejar. Não são o ideal, não promovem o bem comum, que não o é se não for o bem de cada pessoa. Não se fazem leis em cima do joelho.
O Estado tem que se mexer, mas com sabedoria e não a dizer “vou ali e já venho”. A política não devia ser a atividade mais nobre? Digo o que penso: uma criança precisa de um pai e de uma mãe. E não é só a criança, mas o adulto que sou também. Parece mais razoável que assim seja, não para convencer ninguém mas é o que se passa comigo, e desconfio que qualquer criança prefere ser agarrada por pai e mãe. "Há isso é o ideal", dizem-me. "Pois é", digo. E acrescento: "mas não é disso que estamos a falar?". Ou deve o Estado por baixa a fasquia? Pôr-se de cócoras e "avançar" para leis injustas? "No meu tempo ainda hei-de ver muita coisinha que nunca pensei vir a ver",lá dizia a mãe do meu pai. Agora eu: para onde vamos?
Vamos, sim, tratar destas crianças. Há muitos que já o fazem no terreno e não apenas em nome dos direitos dos homossexuais - a quem não quero tirar nada. Nasci para ser feliz: não porque o mereça, mas porque me encontrei a querer sê-lo. E quero o meu pai e a minha mãe, que Deus tem. Pão, pão, queijo, queijo. Parabéns Marinho Pinto. Começa a fazer a mala.
O Pe Abel Varziam
fotografia da net
O título deste post era para ser outro. Era “Europeias, Salazar, Abel Varzim: Silêncio que vai cantar a abstenção?” Mas como hoje e ontem é proibido fazer campanha! E como este blogue tem um peso brutal na escolha dos portugueses, mudei logo. Só queria dizer que não concordo com esta regra. Então não devia ser “esclarecer” até à urna? Mas realmente as campanhas são o que são. Esclarecem? Da Europa, que é o caso, o que ouvi dizer nestas últimas semanas? Ataques ou braços e abraços por uma causa comum? Bocas indiretas ou interfaces diretos? Mais do assunto que está hoje nas mesas, ou de outras que se aproximam, a passos curtos? Se ligo a Televisão, e mesmo nos canais que se dizem de informação, do que sou informada? Nem comento. Liguem. Liguem.
A cantoria parece-me outra. Tem razão o “Melhor do que falecer”: ò Malhão, Malhão, que vida é a tua? Confesso que nunca me tinha lembrado que o folklore está impregnado de filosofia. Isto tudo para dizer que, se bem que não adore os franceses, há coisas que só eles sabem soutenir. Têm um programa de divulgação e debate, cujo título é “On n’est pas couché.” Que pena, pensei e bem, não termos nada assim. O que está em epígrafe não é a tradução correta, porque deitados andamos há muito. E para fazer justiça ao dito programa, seria melhor recriá-lo com outro título, do género: NESSUN DORMA.
Mas que sortuda eu sou! O programa está aceite por um homem da informação. Tudo a postos. Tive foi que ir para a cama com ele. Mas então, a cama serve para muitas coisas. E é melhor se tiver atualidade, expertise, vivacidade, música, voz off, curiosidade e dinamismo. Mas como hoje a ordem impõe silêncio, deixo umas palavras sobre Abel Varzim, que esteve nesta semana na Assembleia da República. O “santo” vê mesmo mais longe?
D. Manuel Clemente, na sessão comemorativa dos 50 anos da morte do fundador da Liga Operária Católica (LOC), que decorreu esta terça-feira, no auditório do edifício Novo da Assembleia da República, falou alto e a bom som. Diogo Freitas do Amaral e Guilherme de Oliveira Martins, destacaram outros traços de pensamento e ação desta grande figura da Igreja e da Sociedade Portuguesa. O Patriarca deixou um apelo a que se estude o seu pensamento. E deu razões. Ainda na 4ªfeira ao almoço, uma pessoa que participou no evento disse-me que “os textos lidos pareciam ter sido escritos para hoje; uma atualidade impressionante”. E que D.Manuel é favorável à abertura do seu processo de canonização. Quem foi este homem “normal” tão excecional?
Foi deputado à Assembleia Nacional, em representação da Igreja (de 1938 a 1942). Não voltou ao lugar nas legislaturas seguintes, porque as suas principais intervenções foram vistas como hostilidade governamental. O seu amor à classe trabalhadora e o conhecimento que dela tinha fizeram dele fundador e assistente da LOC. A ele se deve a criação de um centro de reintegração na Amadora e no Porto e a fundação da Liga Nacional Contra a Prostituição, atividade que veio a ser reprimida. Em 1948 sentiu-se obrigado a deixar o lugar de professor do Instituto de Serviço Social, que ocupava desde 1938, sob a ameaça de a escola cessar de receber o subsídio do Governo, caso ele não saísse.
Cansado e doente, foi aconselhado, em 1957, a retornar à terra natal, onde ainda criou, com amigos, a Sociedade Avícola do Minho. Vigiado pela PIDE, durou seis anos e meio o seu cativeiro. Dava tudo o que tinha. Dava até a sua própria roupa pessoal. "Não há um dia de sossego, meu Deus! Sempre a miséria a rondar-me a porta... e eu sem lhes poder valer!", dói-lhe no seu "Diário". E diz mais: "Não gostei da procissão! (...) A Procissão dos Passos é de todos os dias mas não tem andores, nem música, nem anjinhos. Tem dores, angústias, desesperos, lágrimas, lamentos, e chagas. São os ódios de raças, as lutas fratricidas, os colonialismos, os campos de concentração, a opressão das consciências, as limitações da personalidade e da liberdade humanas, a fome, o desemprego, os bairros de lata, os acidentes de trabalho e de estrada, as prepotências e desmandos do capital, a exploração de menores, a escravatura da mulher, os compadrios, as injustiças, os egoísmos (...) Tudo isto flagela, dilacera, crucifica o Corpo de Cristo, como nunca talvez na História da Humanidade".
Abel Varzim emitia opiniões inconvenientes para o regime. Pressionava muitas vezes Cerejeira. De acordo com D. Manuel Clemente, em algumas situações, aquele acabou por encobrir as atividades do pároco, porque considerava que ele era a chamada “reserva da Igreja”, caso a ditadura tivesse um fim. Era a esperança de muitos, em Portugal, no pós guerra, afirmou D. Manuel. Não estava a dormir e, parece-me, que não vai para a cama tão cedo.
Maria Guadalupe e Eduardo Lourenço, ontem na Versailhes, no 91º aniversário deste espanto de Pessoa
fotografia de Fernando Figueiredo
Eduardo Lourenço ontem ao final da tarde tarde num café de Lisboa. Foi um encontro naquelas coincidências que acontecem. Puxei-o para a nossa mesa enquanto ele esperava a sua companhia. Curioso: fazia 91 anos. Que festa! Um bom momento. Apareceu logo a seguir quem ele esperava, e sentou-se na nossa mesa. Depois, também sem esperar, entrou o meu fotógrafo de eleição. Rui Ochoa. Ajudou à festa. E registou as 91 Primaveras. A seguir foi tudo para as suas vidas. No fim, mesmo no fim, pensei que gostaria de escrever aqui alguma coisa. Disse-lhe: “amanhã apetecia-me escrever sobre os seus anos…mas não sei que diga”. E não me preocupei.
Mas a ele, com a sua insustentável leveza de ser, tudo lhe interessa. E nada deixa escapar. Ao meu desejo, e na hora, parou. E pôs aquela cara de olhos de “ouvir”. Que tanto vibra com um jogo de futebol, como com uma intervenção pública que tenha que fazer, como aconteceu no painel final da conferência sobre a ditadura, que há dias teve lugar na Gulbenkian. Cabia-lhe então apresentar os ex-presidentes Jorge Sampaio, Ramalho Eanes e Mário Soares. "Eles não precisam de apresentação. Eu é que precisava que me apresentassem....a mim mesmo." Por isso reconheceu uma quase desnecessidade a sua presença ali. Mas discursou como ninguém, porque "nada se faz sem paixão" (palavras de Hegel citadas por ele na sua intervenção) e dessa poucos têm. Pelo que disse, situou-se no registo do "quis saber quem sou, o que faço aqui". Está sempre nesta onda. Mas com uma simplicidade e disponibilidade esmagadoras, simples, a transbordar de ternura e compaixão.
Mas voltando ao meu desejo. O aniversariante estava intenso - uma espécie de 91 da armada - num momento do tempo mas fora do tempo ( T S Elliot). Nunca o tinha visto tão de perto, de lado, nos olhos, que estavam a olhar não sei para onde. Mas estavam, estavam. E estavam verde transparente. Espanto total. Camões puro. Criança. Percebi que ia dizer qualquer coisa. Uma das suas rajadas plenas, paradoxais, que vão rasgando e abraçando o mistério no qual nadamos. Peguei logo no guardanapo (ainda ando péssima da cabeça depois do acidente de há dias; dou pouco para a caixa).
Ele ditou-me o que poderia escrever hoje. Disse-o entre paragens, recuos e alterações, assim: “ Fazer 91 anos como se acabasse de nascer! Fazer quase 100 anos é o mais suportável dos pesos. Só a morte dos outros é que é insuportável. É o insuportável absoluto! Acabar de nascer é nadar numa inconsciência a nenhuma outra parecida. A inconsciência, diz Fernando Pessoa, é aquilo que a consciência nunca consegue recuperar."
Ele fez anos. Eu recebi também o presente. Um homem que suporta o que é absolutamente insuportável muda, muda-nos. Na despedida, para ele não ir carregado (já levava um saco com a nova edição do “Livro do Desassossego”, pesado, claro…), ofereci-me para lhe guardar a bandeira rosa das Europeias, que tinha tido nas mãos, nessa mesma tarde, momentos antes, na célebre descida do Chiado.
E como nesta semana lembramos Mário de Sá Carneiro, registo aqui um dos poemas preferidos do Professor “fugitivo”: “vou a todas”, costuma dizer . O poema tem tudo a ver com o belo momento de uma festa de anos inesperada. Fugitiva, de rosas perfumadas diante de uma Presença. Paris, Dezembro, 1915:
«Que rosas fugitivas foste ali:/,Requeriam-te os tapetes – e vieste…/– Se me dói hoje o bem que me fizeste,/É justo, porque muito te devi.//Em que seda de afagos me envolvi/Quando entraste, nas tardes que apareceste –/Como fui de percal quando me deste/Tua boca a beijar, que remordi…//Pensei que fosse o meu o teu cansaço –/Que seria entre nós um longo abraço/O tédio que, tão esbelta, te curvava…//E fugiste… Que importa ? Se deixaste/A lembrança violeta que animaste,/Onde a minha saudade a Cor se trava?…» (“Último soneto” in Poemas Completos. Edição Fernando Cabral Martins, Assírio & Alvim – 2001).
Daniel Sampaio
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Parece mentira mas tinha escrito no meu bloco de notas na 4ªf: “apanhar o Daniel Sampaio”. Ontem fui almoçar à Versailles. Já estava na mousse de chocolate quando vi um senhor que me pareceu ele, mas eu vejo mal ao longe, e achei que já andava a sonhar alto. Mas era ele, vim depois a perceber. À saída da pastelaria resolvi comprar uns bolos para os miúdos, e parei então no balcão, até que vi aparecer um amigo que ia ter com…o dito cujo. “Apresenta-mo” !!!! Pronto. Apanhei-o. Isto porquê? É simples. Queria perguntar-lhe umas coisas que me interessam mesmo, coisas que não sei, e que acho que ele sabe melhor que ninguém. Está na cara.
Funciono assim: não sei, logo pergunto (não vou nos cartesianos pensares). E para quê perder o tempo nas escadas quando em certos casos se pode pular logo de “andar”; às vezes agarrada a outros tipos de corrimão, eu sei. Quando estava a escrever o livro sobre a Maria Ulrich (Tenacitas) apanhava coisas do género – nas milhares de notas soltas que aquele manancial de escritos ainda tem por catalogar como deve ser -, escritos em pequenos papéis, blocos de notas, diários: “escrever ao Salazar”: e, ao lado, a lista de compras de supermercado que tinha que fazer. E Daniel Sampaio?
Não gosto que o tratem por “o irmão do Jorge Sampaio” (quem não tem irmão, como é?; estou a brincar….) e há muito que sigo o que diz e escreve. Há pessoas que tenho que ler em carne e osso. Que hei-de fazer. E há coisas que não deixo para o dia de amanhã. Já tenho mais de sete vidas. A última foi há duas semanas quando, indo eu no lugar do morto, um carro se enfiou pela porta do meu lado, onde iamos na maior. Safamo-nos porque o outro carro guinou à direita quando nos viu, e só não nos furou por 5 unhas. Só para verem: a porta da minha condutora ficou sem abrir e o carro foi para a sucapa. Chamem-lhe o que quiserem. Para mim é a pedagogia do tempo e das horas. Paulo não caiu do cavalo? Pois eu cai dum Polo. Ainda me acentuou esta ideia de fazer o que quero, assim que posso fazê-lo.
Agora quero falar com o Miguel Guilherme, para mim um - senão “o” - melhor actor da sua geração. Já está anotado na agenda. E, há um caso que ainda não considero perdido porque acredito mesmo no “when I wish upon a star”. Estou farta de o dizer. Hei-de conseguir. Não se tratam de “fezadas”. Tenho verificado que são coisas que me acontecem. A última mais evidente foi eu querer ver as filmagens do filme que Manoel de Oliveira está a fazer. Meti-me no intercidades, e sem saber a minha sorte, não é que não só assisti, como lhe preguei duas beijocas. Só porque ele ia descansar num intervalo das filmagens e se cruzou comigo no passeio que ia dar ao local das ditas, que eu sabia vagamente onde era.
Com Daniel Sampaio ainda não acabou. Escreverei aqui o que aprendi. Despedi-me com um beijinho. Parece que ele tem sangue inglês e apesar de ter vivido em Sintra – a minha terra natal – não é um saloio como eu. Tenho, também por isso, bom gosto, e apesar de não me faltar nada do que é português, gosto e tento fazer tudo o que me faz bem. Venha de onde vier. Recebo por isso de bandeja muitas coisas quando de certo modo já as esperava, mas da forma que menos imaginava. Neste caso entre uns croquetes, uns pasteis de nata, e um amigo que não via há muito tempo. São co-incidências. Os miúdos adoraram o lanche.
Marcelo Rebelo de Sousa, há 100 dias, no Congresso do PSD
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Assisti in loco à aterragem do Professor Marcelo, no Coliseu, no último Congresso do PSD. Agora foi na cidade dos amores, na campanha das Europeias. A três dias do voto, é o mesmo que está em causa: o factor X, ou uma gala de talentos? Taça ou Globo de Ouro? Quem trabalha com a Bimby sabe que com os mesmos ingredientes se fazem coisas diferentes: é só programar os botões tempo, velocidade e temperatura. Resta saber o que se quer comer depois de 25.
Marcelo foi decisivo há 100 dias, pelo inesperado, e pelo número que protagonizou às portas de Santo Antão. Lembro-me de um dia ele ter dito que um bom professor sabe fazer teatro. Não que o Congresso laranja estivesse no D. Maria; mas sempre estávamos num Coliseu especial. De Passos Coelho, o que via eu de uma dessas galerias? Discrição e fora das câmaras. Tudo menos passear no calmo da tarde. O que tem Passos, que fez vir ao Coliseu quem disse que não iria? O que tem Passos, que fez o seu anterior rival na candidatura à liderança do PSD dizer o que disse, um dos melhores discursos do dia? Que tem Passos para mostrar um PSD a pulsar de novo?
O anúncio de que Marcelo ia chegar - ele que tinha dito que não iria -, tornou quente a sala. Afinal o Congresso tinha interesse. E Marcos Mendes acabou por aparecer, depois do jantar. E Pedro Santana Lopes fez um discurso de arrasar. Ao longo da tarde já alguns congressistas tinham reconhecido o valor da postura de autoridade de Passos Coelho. O tempo passava, e era vê-los a chegar, e a abraçar. Uma espécie de filhos pródigos vindos de seu próprio pé a um lugar de chegada e arranque. Uma família desavinda em muito, mas a manifestar qualquer coisa diferente. O professor chegou por volta das 19h e lá vi o costumeiro abraço ao líder. Ainda veio a tempo de ouvir e ver Rangel, que fez um discurso brilhante. Inteligente. Sabe pensar e sabe comunicar, qualidades raras numa só pessoa (nem preciso de exemplificar...) E quis marcar aí os Passos para as Europeias. Pediu a Seguro interlocutor, na hora. A bem da Política, isto é, para não falar para as paredes. Estavamos a 100 dias das Europeias. A precisar de argumentação e de ação. "Carificação e não hesitação!", disse para comparar Passos e Seguro.
O trapézio tinha então Marcelo (s ) e Santana. Este, diplomaticamente, manifestou uma visão razoável: aparecer quando tudo corre bem, pode resvalar para o banal; aparecer para aproveitar a onda, pode resvalar para o sacrifício. Por Portugal, repetiu várias vezes. E disse que o PSD tem liberdade sim, mas tem regras também; que chega de palhaçada; que há quem tenha o talento de por a sua vida no que diz; e que diz que há o talento de quem aparece e desaparece a seu bel prazer, sem dar o litro.
Se há alguém que anda a passear, esse não se chama Pedro. São outros que passeiam. Outros que passaram e não passaram. Passarão e não passarão. Rangel em Coimbra sabe, disse-o aos jornalistas, quando questionado se tinha ficado surpreendido com o teor do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, em que apelou ao voto em Juncker para presidente da Comissão Europeia. "Ele é uma pessoa que nos consegue sempre surpreender, isso faz parte das suas características." Falando aos jornalistas em Óbidos, depois de ter percorrido a pé com o primeiro candidato do CDS-PP, Nuno Melo, ruas do centro daquela vila, o cabeça de lista, Paulo Rangel disse que ficou surpreendido "pela positiva, porque é muito importante fazer esta pedagogia europeia, como ele fez".
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