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"expresso" cada manhã
Mário Soares
Fotografia de Rui Ochoa
Amor e tradição são uma lição: o Povo é quem mais ordena? Ai pois é! Mas qual Povo? Dois Amores fizeram duas Cidades: a de Deus e a dos Homens, e essas cidades encontram-se “misturadas” aqui e agora – defende S. Agostinho nos 19 livros da sua obra Civitate Dei. É esta “mistura” que hoje me interessa. Uma espécie de trigo e joio existencial que urge aparar. Cuidar. Sem esta atenção pragmática, a Política já era. Não se vive de ceifas mas sim de vidas e de cirurgias, quando necessárias. Se é para ceifar, então prefiro o regresso às Cavernas, ou o caldo quente original; ou então mesmo um Woodstock que dure até eu me chatear e me encontrar.
Jornal Público de ontem: duas colunas de opinião, uma ao lado da outra, uma à esquerda e uma à direita. Mário diz que foi no domingo passado que passou, que se lhe deu a evidência de que existe hoje uma “preocupante indiferença” a António José Seguro. Será que acordou agora? Ou que é da idade, já que os ares de Nafarros, Saraiva, dois Antónios e seus cabritos, não salvam o que não pode ser salvo? Nem pensar! Soares sempre foi, e é, “fresco que nem um carapau”. Uma espécie de time out. E, claro – aqui vergo-me incondicional -, 25 de Abril sempre. Sem sombra de dúvida. Mas nestas matérias nada é mecânico, nem há cá coutadas ou direitos adquiridos. As coutadas são outras, e os direitos são de quem mesmo mais ordena.
E já aqui disse ontem que nada disto tem que ver com a pessoa, mas com os seus actos. Estou sempre a dizer isto, porque muitas vezes o que digo é mal interpretado: eu gosto dele; mas não gosto de certas coisas que ele faz. Ponto. É também desta forma que me vejo a mim e aos outros. E não digo isto para fugir com o rabo à seringa ou para diminuir ou amaciar o que quero dizer hoje. Tenho medo? Nem preciso de cão. Chego-me. Chego a ter saudades daquelas bochechinhas que nunca tive o privilégio de apertar. Contigo aprende-se a ter saudade…
Voltando ao Público. Dizes: há socialistas que têm “a ambição de dar a Portugal uma alternativa” como deve ser. Aqui digo eu: temos visto que sim!!!! E acrescentas que se impõe mais do nunca (!) “uma política corajosa (…).” E que ainda bem que António Costa tenha dado à costa; que o felicitas e apoias por ter aparecido (seria now or never, pergunto). Vais ao ponto de afirmar que ele é a esperança para o Povo, que “tem sofrido tanto com este Governo”. Caso para eu te perguntar: mas o senhor Dr. Mário Soares faz mesmo parte do Povo? Concluo olhando a coluna da direita, olhando-a de frente: que opinião pouco valente!
A da esquerda, de Valente, sim. Vasco Pulido diz que com ou sem Costa a malta é a mesma: “A [sua] súbita aparição não irá varrer com facilidade este antro [leia-se: PS] de estupidez, de ambição de intriga.” Que o PS se tem agora, e apenas, centrado na preocupação pelas culpas da cisão cada vez menos intermitente e visível aos olhos de todos. E diz, e certo, que a vantagem de Costa é a de há muito se ter divorciado de Sócrates (se é que alguma vez tenham sido casados; parece-me que tenha sido até agora uma “união” de facto). E também no facto de António Costa “perceber muito bem o mundo à volta dele.” Eu? Tenho dois amores. O resto é fiada.
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