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António José Seguro será um bonsai?

por Fátima Pinheiro, em 25.06.14

Em entrevista à Rádio Renascença, ontem à noite, o líder da oposição disse que a partir de agora vai ter cuidado com a linguagem que utiliza. Mais vale tarde que nunca? É que António Costa fragilizou o PS, apontou. Seguro confessa que se “sente” agora outro: “eu hoje sinto-me um pássaro fora da gaiola.” Parabéns Raquel Abecasis , parabéns ao teu Programa “Terça à Noite”, às perguntas que fazes sem papas na língua. Temos que dizer quem são os bons jornalistas. Ora bolas! http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=191&did=153362.

O PS, ficamos a saber, é uma questão de gaiolas. Ou de bonsais. Já Mário Soares disse um dia que não se sentia um passarinho mas, e também, um pássaro fora da gaiola. E vão dois. A analogia da gaiola – famosa no cinema – é aqui muito interessante. Por seu lado, e também ontem à noite, em entrevista na SIC Notícias, António Costa esforçou-se por lembrar o positivo do anterior governo socialista. E que esse era o caminho. Apontar o BOM. Conseguiu dar dois exemplos de coisas boas. Dois. E que o que agora importa, repetiu, é sublinhar o BOM.

Tirem-me deste filme. Gaiolas Douradas só mesmo no Cinema. E lembro-me também de dois. Filmes. Mas bons.

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“Quem simpatiza pára” (Bernardo Soares). Em Saramago páro. Faz hoje 4 anos que partiu para outro lugar: “O que fizeste do teu irmão?” (repete em “Caim”). “Terra do Pecado” é o seu primeiro livro. Mudaram-lhe o título, di-lo o autor no “aviso” inicial. Ele queria ser escritor. Diz. E termina: “…o futuro não terá muito para oferecer ao autor de ‘A Viúva’.” (Caminho, 9ª ed. p.9). Matamos o irmão, nós incluídos. E isso é estar fora do paraíso. As nossas vidas. A crise. Como sair?

Na Fundação José Saramago, o dia é de trabalho cumprindo assim aquele a que chamam "Mandato Saramago". Para assinalar a data, destaco da programação: o filme “O Homem Duplicado”, adaptado livremente a partir do seu livro homónimo. Estreia amanhã nas salas de cinema portuguesas e brasileiras. E das 10 às 18 horas, a entrada na Casa dos Bicos é hoje livre. Gosto do site da Fundação.

Há 2 anos, a 13 de Junho, lançou-se a ideia do “Dia do desassossego”. No discurso da Presidente da Fundação Saramago, por sinal dia de anos de Fernando Pessoa e dia de santo António: “Lançamos a iniciativa de um Dia do Desassossego que talvez a câmara assuma e se faça em Lisboa um Bloomsday universal e pessoano…”. Estavam a ouvi-la Mário Soares, Maria Barroso e Manuela Eanes, o presidente da Câmara Municipal António Costa, o secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas, a deputada Gabriela Canavilhas, o político Jerónimo de Sousa, os poetas Vasco Graça Moura e Nuno Júdice, a escritora Nélida Piñón, que veio do Brasil para representar na cerimónia a Academia Brasileira de Letras, o cineasta Miguel Gonçalves Mendes, os editores Zeferino Coelho e Manuel Alberto Valente. Eduardo Lourenço enviou uma mensagem que foi lida durante a cerimónia.

Vasco Graça Moura, que durante oito anos trabalhou na Casa dos Bicos quando ali estava instalada a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, achou “extremamente interessante que ela tenha passado de um sítio onde se cruzavam ideias sobre celebrações do passado português para um sítio onde se encontra depositada uma obra e sobretudo uma memória que é extremamente importante na nossa cultura actual”.

Saramago dizia-se não crente. Mas porque terá “parado” a vida inteira nos textos bíblicos para os virar do avesso?, perguntou outro dia Eduardo Lourenço. Sim, “crente” não define uma pessoa. O que define uma pessoa – e a pessoa define-se por ser indefinível – é ser aquela e não outra. E ao nome “Saramago” não há quem fique indiferente. Eu também cheguei a pensar que se pode pensar sem preconceitos. Mentira. Ninguém parte do zero, traz consigo uma história, ideias, opiniões sobre as coisas. Pre-conceitos; uma espécie de óculos com os quais eu me vejo e vejo o resto. Tirar os óculos é ficar com outros. A própria cegueira é um forma de ver (inimaginável para mim, que por enquanto ainda vejo). A obra e o homem partilham uma cumplicidade indizível, no entanto é impossível reduzir uma pessoa àquilo que fez, faz e fará. No caso, Saramago às linhas que escreveu. Ao ouvir “Saramago” habituei-me a ouvir Memorial do Convento. Parei no final do primeiro capítulo. Achei que era ofensivo. A Deus e à Sua Mãe. Parei. Veio o Nobel.

Vale o que vale. Insisti então, um pouco ao calhas: “Ensaio sobre a cegueira”. Devorei. Curioso: radicalmente diferente do que antes tinha lido. Nem uma palavra sobre Deus. Ou Mãe. Poder descritivo puro. Domínio da palavra. Nem uma a mais, nem uma a menos. A questão da pontuação é para mim um dinamismo que ao soltar o texto dessa outra forma, faz a linguagem elástica e provoca a interação. Uma espécie de liberdade.Logo no começo do livro, Saramago dá-nos um “semáforo” como ninguém. Sem lirismos, quase de um modo matemático, conta o que se dá a ser visto. E o livro corre assim até ao fim.

Embora se possa retirar das obras no seu conjunto uma mensagem, ela não é linear. Uma invariante – salvo o ciclo que começa precisamente com este ensaio, mas que depois volta a ser interrompido, e Caim, o seu livro preferido, acaba por ser uma síntese (Aufheben) à maneira hegeliana – é a sua visão da Igreja. Melhor, de uma certa forma de ser Igreja. Saramago acaba por reduzir a Igreja a uma parte dela, como uma moral de fracos, para usar a expressão de Nietzsche. Mas Saramago não sabe que a Igreja não é uma moral.

Não dizem as religiões todas o mesmo; amor, justiça, paz. Se é só para isso, para que serve a Igreja? E às vezes até contribui para o contrário de tudo isso! Por isso tanta amargura e desentendimento. Falta de cuidado. Pobres dos pobres: a eles se dedicam as Madres Teresas. O desejo de conhecer é uma grande fome. E são muitas as vezes em que o mascaramos. Quem de nós quer escancarar as portas dele? Todas?

O nódulo do Cristianismo está na carne. É isso que custa engolir. Por isso custa tanto dizer a palavra “belo”, diz a irmã de Isaura (José Saramago, in "Clarabóia", Caminho, 2011). Tia Amélia, ainda chocada pela sua incapacidade de há pouco, quis esclarecer: “ –Percebo eu. É como a palavra Deus para os que crêem. É uma palavra sagrada.”

E ao lado de quem aponta a luz, é bom quem aponte a epidemia de cegueira que proliferamos. Importa sair de caverna e voltar a ver. E um livro é "apenas" um livro. A cultura, a vida humana, depende de cada gesto meu, dos meus desassossegos. O livro impossível, dele (como disse na Culturgest quando apresentou "Caim"). No filme “José e Pilar” a propósito deste desassossego o nobel afirma: “Deus não existe! Quem quiser acredite, pronto!”

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Mário Soares: uma espécie de «Time Out» (2)

por Fátima Pinheiro, em 31.05.14

 

                                       Mário Soares

                                       Fotografia de Rui Ochoa

 

Amor e tradição são uma lição: o Povo é quem mais ordena? Ai pois é! Mas qual Povo? Dois Amores fizeram duas Cidades: a de Deus e a dos Homens, e essas cidades encontram-se “misturadas” aqui e agora – defende S. Agostinho nos 19 livros da sua obra Civitate Dei. É esta “mistura” que hoje me interessa. Uma espécie de trigo e joio existencial que urge aparar. Cuidar. Sem esta atenção pragmática, a Política já era. Não se vive de ceifas mas sim de vidas e de cirurgias, quando necessárias. Se é para ceifar, então prefiro o regresso às Cavernas, ou o caldo quente original; ou então mesmo um Woodstock que dure até eu me chatear e me encontrar.

 

Jornal Público de ontem: duas colunas de opinião, uma ao lado da outra, uma à esquerda e uma à direita. Mário diz que foi no domingo passado que passou, que se lhe deu a evidência de que existe hoje uma “preocupante indiferença” a António José Seguro. Será que acordou agora? Ou que é da idade, já que os ares de Nafarros, Saraiva, dois Antónios e seus cabritos, não salvam o que não pode ser salvo? Nem pensar! Soares sempre foi, e é, “fresco que nem um carapau”. Uma espécie de time out. E, claro – aqui vergo-me incondicional -, 25 de Abril sempre. Sem sombra de dúvida. Mas nestas matérias nada é mecânico, nem há cá coutadas ou direitos adquiridos. As coutadas são outras, e os direitos são de quem mesmo mais ordena.

 

E já aqui disse ontem que nada disto tem que ver com a pessoa, mas com os seus actos. Estou sempre a dizer isto, porque muitas vezes o que digo é mal interpretado: eu gosto dele; mas não gosto de certas coisas que ele faz. Ponto. É também desta forma que me vejo a mim e aos outros. E não digo isto para fugir com o rabo à seringa ou para diminuir ou amaciar o que quero dizer hoje. Tenho medo? Nem preciso de cão. Chego-me. Chego a ter saudades daquelas bochechinhas que nunca tive o privilégio de apertar. Contigo aprende-se a ter saudade…

 

Voltando ao Público. Dizes: há socialistas que têm “a ambição de dar a Portugal uma alternativa” como deve ser. Aqui digo eu: temos visto que sim!!!! E acrescentas que se impõe mais do nunca (!) “uma política corajosa (…).” E que ainda bem que António Costa tenha dado à costa; que o felicitas e apoias por ter aparecido (seria now or never, pergunto). Vais ao ponto de afirmar que ele é a esperança para o Povo, que “tem sofrido tanto com este Governo”. Caso para eu te perguntar: mas o senhor Dr. Mário Soares faz mesmo parte do Povo? Concluo olhando a coluna da direita, olhando-a de frente: que opinião pouco valente!

 

A da esquerda, de Valente, sim. Vasco Pulido diz que com ou sem Costa a malta é a mesma: “A [sua] súbita aparição não irá varrer com facilidade este antro [leia-se: PS] de estupidez, de ambição de intriga.” Que o PS se tem agora, e apenas, centrado na preocupação pelas culpas da cisão cada vez menos intermitente e visível aos olhos de todos. E diz, e certo, que a vantagem de Costa é a de há muito se ter divorciado de Sócrates (se é que alguma vez tenham sido casados; parece-me que tenha sido até agora uma “união” de facto). E também no facto de António Costa “perceber muito bem o mundo à volta dele.” Eu? Tenho dois amores. O resto é fiada.

 

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PS dá à COSTA

por Fátima Pinheiro, em 29.05.14

                                                     Encosta-te a mim...

 

Então é assim? Foi preciso esperar para ver o resultado de Seguro nestas eleições europeias? Por que é que Costa aparece só agora? Estava à espera que um terço dos portugueses se manifestassem? Mas não sabia já ele que a abstenção seria enorme? Mas que legitimidade politica tão magrinha! Esta golpada não é justa para Seguro. Não é justa para o país, não é justa para quem nos tem governado. Terá a justiça do tamanho que ele quer: ser o próximo primeiro-ministro de Portugal. De cavalo de pau, cavaleiro andante-militante desde as suas 14 primaveras, como fez questão de lembrar ontem aos jornalistas. Como que a dizer ao português: podes vir chorar no meu peito as mágoas e as desventuras, sabes sempre onde estou, sou o que te conta mentiras, do meu cavalo de pau, vou estar sempre do teu lado. Se é assim prefiro o Rui Veloso, que logo à noite estará na Bela Vista. Será o meu país um Rock in Rio? Venham depois com a cantilena que Durão Barroso nos abandonou e de que no fim das contas é ele o culpado. Género western: “DB: procura-se!” Abandonou o tanas. Sabem a história toda?

 

O estado da democracia chegou a um ponto em que não vale a pena dizer – para já - que estas não foram eleições legislativas. As ideias de democracia e Europa estarão em crise. Os protagonistas políticos – salvo uma ou outra exceção que me recuso a sublinhar porque está na cara – mostraram mais uma vez como se tem feito a política: facadinhas nas costas, oportunismo, e apostas quando não há risco. Passos Coelho tem tido a coragem de tomar medidas de austeridade, impopulares. Coisas desagradáveis. Às vezes a chutos e pontapés? Terá dado algum passo que não foi o correto? Não fez nada que não desse certo? (os Xutos logo vão cantar ao lado do Rock do Rui).  Não que eu lhe queira assim tanto. Mas não se percebe que quem ganhou no Domingo foi ele? Pelo que tem feito? Pelos riscos mesmos riscos, e não a fingir?

 

O silêncio das urnas no Domingo pode ser visto como uma moção de confiança – ou o benefício da dúvida - para que quem começou a obra, a leve ao fim. Para se fazer o que ainda não está feito. Embora estejamos com o país a abanar, a ver muita gente a passar mal, vale agora a pena deitar tudo a perder? Ricos, privilegiados parece que sempre os teremos. Queremos que Roma e Pavia se façam num dia? Cortem as pernas a Passos! Cortem as pernas a Seguro! Por que não chamam Sócrates para um “encore”? É para começar de novo e dizer, mais uma vez: “agora é que é”? Histórias da carochinha. Vem o novo Salvador? Vai-se rebobinar. Já vi este filme. Deixemo-nos de utopias. Eu prefiro uma presença, a errar por vezes, mas a pegar no barco que estava à deriva.

 

O Governo não fez o que a troika quis, ou não governou “a mando” dela, lembrou ontem Passos Coelho na abertura do Conselho Nacional. Fez sim o que entendeu necessário – tinha e tem toda a legitimidade para o fazer - para retirar o país da insolvência em que se encontrava. E nós esquecemos por que chegamos a esse abismo, ou “terramoto”. Ribeira vai cheia e o barco não anda? Sem referir o Tribunal Constitucional, o PM lembrou ainda que é preciso uma tomada de consciência, que há decisões que poderão vir a comprometer o futuro do país. Que poderão por em causa uma recuperação sustentada da nossa economia e a recuperação da credibilidade do país.

 

António Costa quer disputar a liderança do PS e desafia o líder do partido a dar a palavra aos militantes? O PS é que está em crise. O terramoto que sofre agora – com tanta fratura interna - não deve impedir que se continue a aposta legitimada nas últimas legislativas. Costa disse ontem que se Seguro não convocar o congresso, ele próprio irá avançar com um pedido na comissão nacional:  "O PS é um partido responsável e democrático, onde a boa tradição é que haja liberdade de expressão, pluralidade e escolha democrática pelos militantes das suas lideranças"

 

Deu à Costa, pronto. Can´t get no satisfaction. Eu? Tenho o meu amor lá na outra banda. Nem tudo o que vem à rede é peixe. Não que seja maniqueísta mas isto está a melhorar. Seguro segura-te, ou queres o usa e bota fora. Os mandatos levam-se até ao fim se há razões. E há. Ou poderá cair este  governo só porque o PS tem mais uma cadeira na “europa”? Acho que basta. Costa: queres ser Primeiro Ministro? Eu ofereço-te um jogo de computador. Ainda tens o Magalhães? Não brinco contigo. Simpatizo contigo. O tua cara agrada-me; sei, de fonte segura que és competente, que ainda nos teen já fazias leis. Um animal político. Mas será que vale tudo?

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