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"expresso" cada manhã
Porque sim, é com ele que celebro o Dia de Portugal. “Aquilo que eu queria ser e não tenho coragem de ser, encontro nas suites de Bach”; "certamente se um dia voltar para Deus, a nenhuma outra coisa o deverei senão a estas estradas de uma melancolia lancinante que, desde o canto gregoriano até Messiaen, devoram em mim o sentimento da realidade do mundo visível." (Eduardo Lourenço, Tempo da música. Música do tempo, Gradiva, 2012). Um milagre. Qual? Leiam, se quiserem.
Reconhece o Apocalipse que se vive, e faz a pergunta e a resposta: estaremos no Mesmo Barco? Por outras palavras, na sua intervenção nas últimas Jornadas parlamentares do PS, o ensaísta deixou um conselho aos socialistas: que estejam menos preocupados com os seus adversários, porque é normal que as pessoas não estejam no mesmo barco. Afinal Eduardo tem muito de Jack: estamos On the road (1957), numa consciência crítica. Em vez de viver por procuração, no sofá, frente à televisão, ou noutras redes, há sinais de um despertar. Muitos não sabem para onde ir mas tentam inventar um outro futuro.
Mas o melhor de tudo é a simplicidade desarmante. A que olha na carne, nos olhos que olham sempre de frente num rir que se mistura com as expressões que lhe espelham a alma. Lourenço dá-nos silêncios que aquela cara diz tudo. E um espantar-se permanentemente. Quando ele diz publicamente que vai a todas, é com esse mood que o faz. Bem sei que não diz tudo, tudo, o que vai nele. Mas penso que, entre as razões que ele terá, é por entender que a estrada ainda está no começo. Quando a Gulbenkian lançou o 1º volume das suas Obras Completas, com graça disse que parecia que agora estava “paralisado”. Por isso o título que escolheu para o Discurso de aceitação do Prémio Pessoa 2011 foi: "Pessoa ou a porta aberta".
Tenho vindo a perceber que os seus textos nem sempre é preto no branco como se quer, porque a sua forma de escrever é essencialmente poética. E a poesia tem razões que os outros discursos desconhecem. Mas tenho também verificado uma convergência discursiva espantosa e ainda muito por desbravar. Não há ideia que resuma Lourenço, mas ele, ao referir frequentemente a inquietude que S. Agostinho invoca, é um absoluto desassossego que nos faz avançar; é, citando Pessoa, "tudo de todas as maneiras". "Sorri minha alma, será dia".
Fez 91 anos há semanas, e hoje, dia de Portugal, recordo a entrevista que deu ao Público, a José Manuel Fernandes e a Graça Franco, quando fez 85. Ponho aqui sete pensamentos nela recolhidos, bons para ganhar balanço, hoje, dia de Portugal.
Passado – “A fixação no nosso passado é muito de tipo onírico. Mesmo as pessoas menos ilustradas têm impressa a marca do que fomos. Vejam os portugueses emigrados. Na zona onde vivo, Vence, onde os portugueses vieram quase todos da zona de Espinho, quando fazem as suas festas recorrem sempre à simbologia das caravelas. A nossa imagem de marca lá fora ainda é essa, a de gente que descobriu uma parte do mundo. Isso aprende-se na escola, transmite-se oralmente, e ser português é ser o antigo descobridor. E como não temos presente à altura desse tipo de façanhas – nem barcos temos… -, temos imaginação.”
Os dois blocos da Europa – “O maior acontecimento cultural da modernidade europeia foi a revolução protestante que dividiu a Europa em dois blocos. Essa linha continua a passar pelo interior da Europa, a dividi-la. São duas Europas, pois não devemos esquecer que as maiores divisões que há dentro das nações são do tipo religioso.”
Europa e os outros – “[O] problema (…) das minorias muçulmanas é o principal problema do futuro da construção europeia. Ainda não é muito visível, porque são uma minoria, mas a questão é como poderemos resolver, antes da Europa se afirmar em todas as suas dimensões, o problema de relacionamento com uma civilização com a qual, historicamente, sempre nos confrontámos. Não sou apologista das guerras de civilizações, mas elas existem.”
A realidade e a ilusão – “Vivemos hoje tempos melhores do que os que conhecemos no nosso passado recente, e só quem não passou por eles pode desvalorizar esta evolução. Não podemos ser tão pessimistas, talvez tenhamos de reconhecer que os intelectuais, e eu também, sofrem por vezes de um excesso de espírito sonhador, até com uma carga utópica. Depois desiludimo-nos porque a realidade não desaparece e está onde está para nos tirar as ilusões.”
Pós-11 de Setembro – “Foi isso o 11 de Setembro, essa espécie de apocalipse virtual. Entrámos numa zona de tempestades onde nos confrontamos com crises como a que hoje vivemos e que há dez ou vinte anos julgaríamos impossíveis de acontecerem. A nossa surpresa também deriva de estarmos habituados a ver o mundo de acordo com os parâmetros do modelo europeu, um modelo que fomos nós, portugueses, sem o saber, que começámos a difundir, e depois vimos como universal. Já o Fernando Pessoa dizia, “a Europa está em toda a parte”. Só que essa “toda a parte” não é a Europa nossa, pelo que o triunfo do nosso modelo não foi tão absoluto como imaginávamos, sobretudo no domínio dos valores e dos comportamentos. Outras culturas foram resistindo e hoje estamos confrontados com os desafios que nos colocam.”
O religioso vem primeiro – “Devíamos ter presente que, por regra, a primeira expressão da Humanidade em cada país é uma expressão do religioso.”
Portugal – “Somos um povo entre os povos, não somos o centro do mundo. Já Camões se tinha apercebido de que éramos uma espécie de milagre… Esse milagre é uma coisa que nos enlouqueceu. Mas todos precisamos de loucura para suportar a vida. Não temos é necessidade de querer estar sempre nas primeiras páginas do mundo.”
K G Chesterton (fotografia tiradad da net)
Foi muito bom o Colóquio sobre G. K. Chesterton no A2 , na Universidade Católica, ontem. Não admira que Jorge Luís Borges o tenha escolhido como seu escritor de eleição, como um dia explicou: “era um homem que não se limitava a acreditar em Deus, mas que se interessava mesmo por Ele.” Não para estar nas nuvens, mas para gozar a vida. Um dia perguntaram-lhe que livro gostaria de ter nas mãos se ficasse isolado numa ilha deserta. Resposta: “manual para construção de canoas”. Recentemente veio a notícia de que poderia vir a ser declarado santo; como já aqui disse, chegou-me às mãos um artigo do Jewish Chronicle: "Pode o inimigo dos judeus G.K. Chesterton ser um santo?". Mas poderá um verdadeiro inimigo dos judeus (e que disse em tempos coisas menos edificantes) ter escrito um dia: "Darei a vida em defesa do último judeu na Europa"? Quando um dia lhe perguntaram se seria santo, ele, no seu paradoxal humor disse que seria bem interessante um homem gordo, de charuto, e mais não sei o quê, de auréola na cabeça!
Hoje expresso aqui coisas que lá, na Católica, marcaram esta mulher, que ontem era quinta-feira. E tenho que me despachar porque não resisto a correr ver o Público. Para ler quem já não faz política. O que inventou Soares esta vez?! Porque no fundo gosto de ti – não destas tuas manobras - espera amanhã pelo (2)…
“Small is beautifull”, eu já sabia. Mas ontem “aumentei”. Só um homem grande e rolante faz dos pequenos, grandes. Isto é comuns, dizia Chesterton, o meu “homem que é hoje”. Os mais de 5.000 artigos do jornalista alargam-nos porque neles All things [ are] considered. Criticam-no um dia: nunca escreves sobre Deus! “Não”, disse. “Em tudo o que escrevo estou a escrever sobre Deus”. É o tema. Aliás já Santo Agostinho dizia que só há dois temas sobre os quais interessa escrever: o “eu” e “Deus”. Não se espere portanto encontrar um tema-tema, mas qualquer escrito de Chesterton é, disse-o, a sua visão sobre o tema. E o seu amor ao paradoxo não é uma figura de estilo, mas é a sua visão das coisas. Por grande ou comum exemplo, de S.Paulo: Vejo o bem que quero e não o faço; faço o mal que não quero, e ganha em mim. Mas não me ganha a mim, diria. Nem a Chesterton: aos 40 converteu-se ao catolicismo. Assentou na Pedra que salva.
E é sem rodeios que o testemunha: “converti-me ao catolicismo por causa da Confissão.” Não à caricatura que dela se faz: peca, peca, que depois vais ao padre. Não andamos aqui a brincar às escondidas. Não estou a brincar comigo. Nem ele com ele! Estamos sim a chamar as coisas pelo nome. Ah, sou limitada, todos fazem o mesmo, os tempos mudaram, é a vida. Ó pá não me apetece. Ó pá apetece-me. E a vida é curta (será?). OK. Mas quem tem medo da palavra “pecado”? Não me venham com histórias de inquisições ou pedofilias, que isso há em todo o lado. “Pecado”, o que é? É “não amar”, that´s all. O pior dos pecados é o desespero, desistir. De mim, de tudo. Conheço isto muito bem. É comum.
Chesterton tem textos sobre a alegria da Confissão que são desarmantes, notou Maria João Laje, uma das conferencistas. E a alegria é justamente o “segredo do cristianismo”, diz ele. Contagia sem violentar. Desarma sem agredir. À santo. Os bloguistas bem precisam de um, e que eu saiba, não há ainda. De qualquer forma, Chesterton já o tenho no meu escapulário, muito pequenino, que levo ao peito, e onde estão escritos os nomes dos meus amigos. Eu, uma mulher pecadora, normal, santa, comum e extraordinária. O segredo não está no escrupuloso querer saber se O amo; está sim na certeza que recebo, todos os dias, de uma forma mais ou menos estúpida, com mais ou menos dificuldades (títulos de livros dele, que a Zita Seabra tem editado na sua Aletheia), que Ele me ama. Lembra K. G. “ a fé começa mesmo antes de a termos”.
Só porque me esqueço destas coisas, às vezes “sinto-me” infeliz. Ainda bem que a felicidade não é um estado de alma! A felicidade acontece – cai-me de cima em cima – no meu desejo ou sede saciados no pedir dela de cada dia. Se eu fosse a fonte ou a gestora dessa Água, não seria eu. Deus me livre.
O João estava ontem sentado no A2 à minha esquerda. A certa altura, falava-se das coisas simples das nossas vidas, tirou da mochila um livro de Roger Scruton: I drink, Therefore I am. A Philosopher´s Guide to Wine. “Lê!”. E deu-me uma passagem em que alguém conta a sua visita a uma casa das Irmãs da Madre Teresa de Calcutá: “It was with a botle of Ksara rosé that a great change came over my thinking” (Continuum, 2009, p.72). A Isilda, que estava do meu lado direito disse: ”esse autor é muito bom”; “acabei de ler um livro dele…”. “Qual?” Ela disse uma coisa como as vantagens de ser pessimista. Vou ver. Só se pode ser otimista K.G.
Encosta-te a mim...
Então é assim? Foi preciso esperar para ver o resultado de Seguro nestas eleições europeias? Por que é que Costa aparece só agora? Estava à espera que um terço dos portugueses se manifestassem? Mas não sabia já ele que a abstenção seria enorme? Mas que legitimidade politica tão magrinha! Esta golpada não é justa para Seguro. Não é justa para o país, não é justa para quem nos tem governado. Terá a justiça do tamanho que ele quer: ser o próximo primeiro-ministro de Portugal. De cavalo de pau, cavaleiro andante-militante desde as suas 14 primaveras, como fez questão de lembrar ontem aos jornalistas. Como que a dizer ao português: podes vir chorar no meu peito as mágoas e as desventuras, sabes sempre onde estou, sou o que te conta mentiras, do meu cavalo de pau, vou estar sempre do teu lado. Se é assim prefiro o Rui Veloso, que logo à noite estará na Bela Vista. Será o meu país um Rock in Rio? Venham depois com a cantilena que Durão Barroso nos abandonou e de que no fim das contas é ele o culpado. Género western: “DB: procura-se!” Abandonou o tanas. Sabem a história toda?
O estado da democracia chegou a um ponto em que não vale a pena dizer – para já - que estas não foram eleições legislativas. As ideias de democracia e Europa estarão em crise. Os protagonistas políticos – salvo uma ou outra exceção que me recuso a sublinhar porque está na cara – mostraram mais uma vez como se tem feito a política: facadinhas nas costas, oportunismo, e apostas quando não há risco. Passos Coelho tem tido a coragem de tomar medidas de austeridade, impopulares. Coisas desagradáveis. Às vezes a chutos e pontapés? Terá dado algum passo que não foi o correto? Não fez nada que não desse certo? (os Xutos logo vão cantar ao lado do Rock do Rui). Não que eu lhe queira assim tanto. Mas não se percebe que quem ganhou no Domingo foi ele? Pelo que tem feito? Pelos riscos mesmos riscos, e não a fingir?
O silêncio das urnas no Domingo pode ser visto como uma moção de confiança – ou o benefício da dúvida - para que quem começou a obra, a leve ao fim. Para se fazer o que ainda não está feito. Embora estejamos com o país a abanar, a ver muita gente a passar mal, vale agora a pena deitar tudo a perder? Ricos, privilegiados parece que sempre os teremos. Queremos que Roma e Pavia se façam num dia? Cortem as pernas a Passos! Cortem as pernas a Seguro! Por que não chamam Sócrates para um “encore”? É para começar de novo e dizer, mais uma vez: “agora é que é”? Histórias da carochinha. Vem o novo Salvador? Vai-se rebobinar. Já vi este filme. Deixemo-nos de utopias. Eu prefiro uma presença, a errar por vezes, mas a pegar no barco que estava à deriva.
O Governo não fez o que a troika quis, ou não governou “a mando” dela, lembrou ontem Passos Coelho na abertura do Conselho Nacional. Fez sim o que entendeu necessário – tinha e tem toda a legitimidade para o fazer - para retirar o país da insolvência em que se encontrava. E nós esquecemos por que chegamos a esse abismo, ou “terramoto”. Ribeira vai cheia e o barco não anda? Sem referir o Tribunal Constitucional, o PM lembrou ainda que é preciso uma tomada de consciência, que há decisões que poderão vir a comprometer o futuro do país. Que poderão por em causa uma recuperação sustentada da nossa economia e a recuperação da credibilidade do país.
António Costa quer disputar a liderança do PS e desafia o líder do partido a dar a palavra aos militantes? O PS é que está em crise. O terramoto que sofre agora – com tanta fratura interna - não deve impedir que se continue a aposta legitimada nas últimas legislativas. Costa disse ontem que se Seguro não convocar o congresso, ele próprio irá avançar com um pedido na comissão nacional: "O PS é um partido responsável e democrático, onde a boa tradição é que haja liberdade de expressão, pluralidade e escolha democrática pelos militantes das suas lideranças"
Deu à Costa, pronto. Can´t get no satisfaction. Eu? Tenho o meu amor lá na outra banda. Nem tudo o que vem à rede é peixe. Não que seja maniqueísta mas isto está a melhorar. Seguro segura-te, ou queres o usa e bota fora. Os mandatos levam-se até ao fim se há razões. E há. Ou poderá cair este governo só porque o PS tem mais uma cadeira na “europa”? Acho que basta. Costa: queres ser Primeiro Ministro? Eu ofereço-te um jogo de computador. Ainda tens o Magalhães? Não brinco contigo. Simpatizo contigo. O tua cara agrada-me; sei, de fonte segura que és competente, que ainda nos teen já fazias leis. Um animal político. Mas será que vale tudo?
Papa Francisco, Rabib Abraham e Iman Omar Abboud, anteontem em Jerusalém
fotografia tirada da net
O voo à Terra Santa não foi visita política. Foi correr para agarrar o essencial. O que faz correr Francisco assim? O livro sagrado tem a “definição” de amor no capítulo 13 da Primeira carta aos Coríntios. Aí se diz que o Amor é uma construção, mas a partir de um Dom, de algo que “já está”. O mesmo se diga da Unidade. Aqui vem a questão: se é um Dom, por que razão o peço, por que há que pedi-lo? Sim, porque o sucessor de Pedro insiste em que peçamos – ou rezemos, que é o mesmo -, sempre e insistentemente. Mais uma vez o certeiro Chesterton a notar que a verdade está no Paradoxo. Mas S. Agostinho ainda diz “melhor”.
O que escrevo faz sentido para quem precisa de ser salvo. Eu preciso. Sei por experiência que preciso de mãos que me levantem todos os dias, de olhos onde vejo portas e janelas, de abraços que me curem as feridas. Pelas minhas mãos nada disto acontece e acontece (outra vez o paradoxo que ilumina): “o amor é paciente, é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento./ Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade./Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (da tal carta de S.Paulo). Aquele abraço da Terra Santa, acima na fotografia, diz tudo.
Repito as palavras de S.Agostinho à minha maneira: Deus criou-te sem ti mas não te salva sem que o queiras, sem a tua liberdade, o teu sim a ti mesmo, ao que és por dentro. Quando os irmãos “desavindos” se deixam apertar nos doces braços do Pai, choram de alegria. Convertem-se, isto é, o seu coração, a sua razão, alarga. Abraça o mundo. De boas intenções está o inferno cheio, oiço. E então. Há alguma coisa que vença mais que o fogo do Amor? Eles correm, correm.
O Abraço em que há dias se fundiram o Papa Francisco, o Rabib Abraham e o Iman Omar Abboud, em Jerusalém, mostra ao mundo inteiro que Deus não é uma Utopia mas uma Presença. Uma Presença: vê-se, toca-se. A isto se chama Encarnação. O verbo se fez carne e habita entre nós.
Marcelo Rebelo de Sousa, há 100 dias, no Congresso do PSD
da net
Assisti in loco à aterragem do Professor Marcelo, no Coliseu, no último Congresso do PSD. Agora foi na cidade dos amores, na campanha das Europeias. A três dias do voto, é o mesmo que está em causa: o factor X, ou uma gala de talentos? Taça ou Globo de Ouro? Quem trabalha com a Bimby sabe que com os mesmos ingredientes se fazem coisas diferentes: é só programar os botões tempo, velocidade e temperatura. Resta saber o que se quer comer depois de 25.
Marcelo foi decisivo há 100 dias, pelo inesperado, e pelo número que protagonizou às portas de Santo Antão. Lembro-me de um dia ele ter dito que um bom professor sabe fazer teatro. Não que o Congresso laranja estivesse no D. Maria; mas sempre estávamos num Coliseu especial. De Passos Coelho, o que via eu de uma dessas galerias? Discrição e fora das câmaras. Tudo menos passear no calmo da tarde. O que tem Passos, que fez vir ao Coliseu quem disse que não iria? O que tem Passos, que fez o seu anterior rival na candidatura à liderança do PSD dizer o que disse, um dos melhores discursos do dia? Que tem Passos para mostrar um PSD a pulsar de novo?
O anúncio de que Marcelo ia chegar - ele que tinha dito que não iria -, tornou quente a sala. Afinal o Congresso tinha interesse. E Marcos Mendes acabou por aparecer, depois do jantar. E Pedro Santana Lopes fez um discurso de arrasar. Ao longo da tarde já alguns congressistas tinham reconhecido o valor da postura de autoridade de Passos Coelho. O tempo passava, e era vê-los a chegar, e a abraçar. Uma espécie de filhos pródigos vindos de seu próprio pé a um lugar de chegada e arranque. Uma família desavinda em muito, mas a manifestar qualquer coisa diferente. O professor chegou por volta das 19h e lá vi o costumeiro abraço ao líder. Ainda veio a tempo de ouvir e ver Rangel, que fez um discurso brilhante. Inteligente. Sabe pensar e sabe comunicar, qualidades raras numa só pessoa (nem preciso de exemplificar...) E quis marcar aí os Passos para as Europeias. Pediu a Seguro interlocutor, na hora. A bem da Política, isto é, para não falar para as paredes. Estavamos a 100 dias das Europeias. A precisar de argumentação e de ação. "Carificação e não hesitação!", disse para comparar Passos e Seguro.
O trapézio tinha então Marcelo (s ) e Santana. Este, diplomaticamente, manifestou uma visão razoável: aparecer quando tudo corre bem, pode resvalar para o banal; aparecer para aproveitar a onda, pode resvalar para o sacrifício. Por Portugal, repetiu várias vezes. E disse que o PSD tem liberdade sim, mas tem regras também; que chega de palhaçada; que há quem tenha o talento de por a sua vida no que diz; e que diz que há o talento de quem aparece e desaparece a seu bel prazer, sem dar o litro.
Se há alguém que anda a passear, esse não se chama Pedro. São outros que passeiam. Outros que passaram e não passaram. Passarão e não passarão. Rangel em Coimbra sabe, disse-o aos jornalistas, quando questionado se tinha ficado surpreendido com o teor do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, em que apelou ao voto em Juncker para presidente da Comissão Europeia. "Ele é uma pessoa que nos consegue sempre surpreender, isso faz parte das suas características." Falando aos jornalistas em Óbidos, depois de ter percorrido a pé com o primeiro candidato do CDS-PP, Nuno Melo, ruas do centro daquela vila, o cabeça de lista, Paulo Rangel disse que ficou surpreendido "pela positiva, porque é muito importante fazer esta pedagogia europeia, como ele fez".
tirada do «Observador»
Uns dias depois da revolução digital do Expresso, nasce o Observador: “é um jornal digital do século XXI. Queremos observar e descrever o mundo, com independência e exigência, contribuindo para a construção de uma sociedade mais bem informada e democrática - para isso precisamos de si.”, diz o facebook deles. Eu, que não assisti à minha morte no Expresso, onde escrevi online durante um ano e todos os dias, fui posta no “olho” da rua sem saber. Estavam tão ocupados a lançar a coisa, que fui tratada de forma inacreditável. Estou ressentida? Claro que sim. Quem não se sente não é filho de boa gente. Mas já estou na página seguinte.
Não se faz. Mas claro que o epigráfico “que se lixe” só vale o desabafo e o expelir ódio do ressentimento, que só faz mal a quem o tem e não a quem é dirigido. Nem eu sou tanto que tire horas de sono à administração do Expresso. Estamos todos bem. E ao desabafar “on line” poupo no psicólogo, que a vida está cara. Mas gosto muito de psicólogos, daqueles que estão bem com a vida, e acabo por ser amiga de alguns.
Uma palavra sobre este nascimento de hoje, no dia, diz o novo jornal, em que passam 124 anos do nascimento de Mário de Sá-Carneiro, o romântico incurável a quem bastaram 25 anos para que Pessoa o considerasse “génio da arte”. Eu que sábado vou ao Café Saudade ouvir o Vítor Pena Viçoso numa tertúlia sobre Alberto Caeiro, gostei.
O Observador teve um parto assistido. Ontem à noite já se podia ver o debate Assis versus Rangel sobre as Europeias. E por baixo: “Proponha uma correção, sugira uma pista”. E é verdade, acontece, e na hora. Então quer isto dizer que não tenho que saber “como funciona”, e que “é fácil”. Funciona logo. Já me tinham dito que o novo “tabloide” usa o motor “expensive”, o que torna a interatividade do interface imediata, na hora mesmo. Experimentei e é muito bom.
Parece que passei a parteira. O que me calha muito bem. Porquê? Porque como sou de filosofia, a mãe de Sócrates era parteira, e ele também (de ideias, claro), sinto-me peixe na água. Estás a fazer-te ao novo online? Estou,estou. Melhor, já me fiz. E assistida.
A fotografia está grande? Está. Foi de propósito. Amanhã volto ao tamnho normal.
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